quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Manifesto 12:12 - As 12 Razões simples

“Dia 12: Dia da opção Vegetariana”
São apenas 12 dias por ano e podem fazer uma grande diferença. Apesar de já existirem movimentos como a “segunda-feira sem Carne”, apoiado por Sir Paul McCartney e milhões de pessoas em todo o mundo, achamos que em Portugal precisamos de algo diferente, precisamos de ir ao encontro da nossa realidade cultural e de compreender as barreiras que existem à opção vegetariana, se as queremos realmente ultrapassar. Afinal de contas, quem já é vegetariano ou opta frequentemente pela opção vegetariana, tanto dá que sejam as segundas como as sextas ou os domingos, faz parte da rotina. Uma das principais razões porque gostaríamos de promover um dia móvel é, precisamente, para dar maior visibilidade e diversidade de quadros à opção vegetariana. No dia 12 de Janeiro podemos estar a almoçar com colegas de trabalho, mas no dia 12 de Fevereiro estamos a jantar com os antigos amigos do colégio e no dia 12 de Junho, se estivermos em Lisboa, podemos fazer um churrasco vegetariano no almoço de família antes de ir para os bairros populares viver a noite de Santo António.
Porque queremos ter opção vegetariana ao nosso dispor, pelo menos uma vez por mês, decidimos manifestar deste modo a nossa vontade, partilhando 12 pequenas mensagens que, esperemos, também vos possam inspirar:

1.      Para os verdadeiros apreciadores da gastronomia é sempre excitante descobrir novos pratos, sabores e combinações. A opção vegetariana pode facilmente representar um acréscimo de mais de 200 pratos diferentes, desde entradas a sobremesas, passando por requintados e inesperados pratos principais. Nenhum bom amante dos prazeres da mesa deve desperdiçar esta oportunidade de desvendar tais descobertas;
2.      Em Portugal existem pelo menos 20 variedades de frutas, legumes e vegetais por cada raça de animal utilizado na nossa alimentação. Promover o maior uso e diversificação de elementos de origem vegetal na nossa dieta é um enorme estímulo ao desenvolvimento de uma economia rural de base familiar que enriquece os campos, cria postos de trabalho e motiva especialmente pessoas desfavorecidas por situações de pobreza e/ou velhice a redescobrir um rumo e utilidade na vida;
3.      A introdução da opção vegetariana torna a dieta mais equilibrada, tanto a nível da redução do colesterol como da diminuição do risco de doenças cardiovasculares, bem como de alguns tipos de cancro. O consumo recorrente de carnes ‘vermelhas’ e/ou processadas, como o fiambre, enchidos e bacon, está ligado à ocorrência de cancro do intestino, sendo que uma diminuição de 30 a 40% do consumo semanal destes alimentos pode contribuir fortemente para um menor risco de incidência destas doenças frequentemente debilitantes ou fatais;
4.      Ao contrário do que se passa com os animais domésticos dos quais nos alimentamos, que são na sua maioria herbívoros, alguns dos peixes criados em aquacultura que mais gostamos de incluir na nossa dieta, como o salmão, robalo e dourada, são ‘lobos’ do mar, alimentam-se de outros peixes. Ou seja, para os alimentar temos que lhes dar proteínas que, em grande parte, serão de origem animal, o que significa muitas vezes continuar e até aumentar o ritmo das capturas de “peixe de mar” para poder alimentar estes novos seres de cativeiro. A diminuição do consumo de peixe de aquacultura industrial pode contribuir para a protecção do frágil equilíbrio dos ecossistemas marinhos;
5.      Por outro lado, a poluição dos mares e rios podem tornar a carne de peixe igualmente insegura. Várias toxinas e químicos que são lançados na água tendem a acumular-se nos tecidos dos peixes. Estamos a falar de mercúrio, chumbo, PCB’s (bifenilos policlorados), pesticidas, arsénico, etc. Ao diminuir a quantidade de peixe que ingerimos, permitimos que o nosso corpo possa processar ou eliminar algumas destas substâncias de modo a baixar os potenciais níveis de toxicidade no nosso organismo;
6.      Actualmente utilizamos cerca de 30% da superfície arável terrestre para produzir carne, quer directamente, por via das pastagens, como indirectamente, por via da produção de alimento para gado. A produção de gases com efeito de estufa (GEE) de todos estes processos somados é estimada numa perspectiva conservadora em 20% da produção total de GEE ao nível planetário, mas poderá ascender mesmo aos 40 a 50%. Se queremos efectivamente contribuir para a amenização das alterações climáticas, teremos que considerar seriamente a diminuição do peso da carne na nossa dieta;
7.      O aumento do consume de carne leva, logicamente, a uma maior pressão para a sua produção. Consequentemente existe uma maior demanda de rações, forragem e cereais para alimentar os animais das explorações intensivas, o que resulta num aumento progressivo do seu preço. Este efeito pode ser devastador para países com economias mais débeis, onde especialmente o aumento do preço do cereal reflecte-se invariavelmente no aumento dos níveis de pobreza, de fome e da emigração;
8.      O consumo de carne continua intimamente ligado à destruição e empobrecimento de muitas das zonas do planeta mais ricas em biodiversidade, solos férteis, cursos de água e vitais para a regulação climática global. Uma pequena diminuição do consumo de carne pode ter efeitos enormes na ecologia planetária, já que muitos dos ecossistemas estão à beira de atingir o que os cientistas chamam de “ponto de não-retorno”, ou seja, incapacidade futura de manter as funções de regulação e suporte que são chave para a nossa sobrevivência. Pelo menos, ao manter o nível de consumo estável e até ligeiramente menor, estamos a dar uma hipótese para que o ‘software’ da Terra não colapse e mantenha/recupere as suas funções;
9.      Num país como Portugal, em que a superfície total de bons solos agrícolas é algo reduzida, a produção animal será sempre uma opção a considerar para a viabilidade das economias locais. Muitos destes animais foram sendo seleccionados para serem os mais aptos a resistir e proliferar em ambientes com baixa disponibilidade de alimento e água, logo, adaptados às condições duras das serras e extensões do interior. Deveremos reconsiderar com atenção a proveniência da carne que nos chega ao prato, optar preferencialmente por animais de proveniências locais e adaptados às condições ambientais e sociais de cada região, em detrimento de carne importada do ‘outro lado do Mundo’, diminuindo deste modo a dependência da pecuária intensiva e promovendo as culturas agro-silvo-pastoris que ajudaram Portugal a tornar-se num país rico em Natureza e paisagens;
10.   A escolha de alimentos de origem ‘biológica’ ou ‘sustentável’ deve ser sempre privilegiada, seja carne, peixe, legumes, fruta ou cereais. Actualmente existem vários modos de produção de alimentos que garantem menores impacto nos ecossistemas, consumos de água e energia mais eficientes e maior protecção da saúde animal e humana. Se combinar a opção vegetariana com a opção biológica está a reforçar o seu impacte positivo na ecologia e economia;
11.   Não temos que comer proteínas animais a todas as refeições para sermos fortes e saudáveis. Nenhum médico, nutricionista ou chef poderá alguma vez contestar esta realidade. Podemos optar, mesmo que pontualmente, por alternativas de origem vegetal aos lácteos que consumimos diariamente. Podemos reconsiderar comer antes uma peça de fruta ou uma tarte de legumes em vez de um pão com fiambre ou um rissol de camarão. Podemos simplesmente diminuir a dose, comer menos, seja carne ou vegetais, estamos a consumir muito mais do que precisamos para ser saudáveis e enérgicos;
12.   O mundo está diferente. O planeta ficou mais “pequeno” com a globalização e todos queremos vivenciar na plenitude o direito à felicidade, conforto e estatuto social. Mas o que estamos a ambicionar é realista? É sustentável? Precisamos mesmo de ter um nível de vida com três carros por cada cinco pessoas, dois armários cheios de roupa que é renovada a cada ano que passa? Precisamos mesmo de ingerir 500 a 1000 gramas de produtos animais por dia para nos sentirmos realizados e integrados numa sociedade utopicamente perfeita? Não valerá a pena uma pequena e quase insignificante cedência, tal como optar pela alimentação vegetariana uma vez por mês, para podermos ter uma vida mais saudável e deixar um mundo melhor para as gerações que nos irão suceder?  

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